quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

"O Pintor e o Pássaro" de Max Velthuijs


O Pintor e o Pássaro
Max Velthuijs
Era uma vez um pássaro…
Era uma vez um pintor. Pobre, como quase todos os pintores. E como quase todos os pintores tinha um amor muito grande pelos quadros que pintava.
Mas havia um que ele preferia: o quadro que tinha um pássaro maravilhoso.
Um dia chega a casa do pintor um senhor muito rico que pede para ver todos os quadros. E escolhe o quadro do pássaro.
O Pintor não quer vendê-lo, mas o senhor muito rico oferece-lhe tanto dinheiro que ele acaba por aceitar.
O senhor muito rico leva o quadro para casa.
Mas o pássaro não se sente feliz, pendurado naquela parede entre retratos de gente velha, e donde só vê móveis caros e o dono sonolento.
E numa manhã de Primavera foge pela janela entreaberta.
À sua frente está um mundo novo, cheio de cores e de sons.
Encanta-se com o canto dos pássaros e dos grilos e poisa num prado, entre flores.
Um galo que por ali passava olha-o intrigado e pergunta:
“Que estás aqui a fazer?”
“Eu sou um pássaro e procuro a minha família”, respondeu.
“Deves ter-te enganado no caminho”, diz o galo,
“aqui não encontras de certeza a tua família.
Por que não vais à floresta?”
Na floresta vivem muitas espécies de pássaros, mas nenhum se parece com ele. “Como tu és cómico!”, dizem-lhe, e põem-se a rir e fazer troça. “Por que não vais para o Jardim Zoológico? Deve ser lá o teu lugar!”
O pássaro sente-se desiludido e um pouco vexado, mas acaba por seguir o conselho dos outros. Abandona a floresta e toma o caminho da cidade. Em voo rápido, chega ao Jardim Zoológico, e poisa sobre a juba felpuda e macia de um leão, como se fosse num bosque.
“Quem se sentou sobre a minha cabeça?”, rugiu o leão.
“Eu sou um pássaro e procuro a minha família”.
“E eu sou o rei dos animais; mas se te portares bem podes ficar aí. Serás meu convidado”,
disse o leão solitário.
E foi assim que o pássaro lá ficou.
Acorreu muita gente para ver aquela cena espantosa:
Um leão e um pássaro a viverem juntos
Como verdadeiros amigos.
Da janela da sua casa, o director do Jardim Zoológico
Olha a multidão e resolve ir saber do que se trata.
Ao ver aquele pássaro tão estranho
fica cheio de curiosidade e leva-o para casa.
Põe-se então a ler grossos livros de ciência,
Na esperança de lá encontrar um pássaro igual.
Mas o pássaro aproveita a distracção do homem e foge
Pela janela aberta.
E voa.. voa.. Está triste porque não se sente bem
Em lado algum. Mas de repente vê, muito alto no céu,
Um avião. Quem sabe se não é o seu pai!
É tão diferente dos pássaros da floresta, tal como ele…
E tenta alcança-lo. Mas o estranho pássaro
voa mais rápido e desaparece nas nuvens.
Desiludido e cansado, para à sombra de um castanheiro.
E é então que se aproxima um rapazito que o olha
Surpreendido. Já sem forças, o pássaro pede-lhe:
“Ah, diz-me onde está a minha família”.
E conta-lhe a sua história. Fala-lhe do pintor,
Do senhor rico, e de como se sente perdido.
Então o menino diz-lhe:
“Eu sei onde é a tua casa”, e leva-o ao pintor.
Nesse mesmo instante o senhor rico saía de casa do pintor, aonde tinha ido devolver o quadro.
Furioso com a fuga do pássaro, exigiu o dinheiro
Que tinha pago, e furioso partiu.
“Que terá acontecido ao meu pássaro maravilhoso?”,
lastima-se o pintor.
Mas de repente aparece-lhe o rapaz com o pássaro.
Feliz, o pintor diz-lhes: “Vem por aqui menino,
Vem por aqui, meu pássaro. Sejam bem-vindos!”
O pássaro sente imediatamente que é aquela a sua casa;
que foi aquele homem que lhe deu vida
E voa para o quadro.
O pintor promete então não voltar a vender aquele
Quadro. E de vez em quando o pássaro sai do seu lugar
E poisa sobre a cabeça do pintor,
Onde fica longas horas a vê-lo trabalhar.

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