O Pintor e o Pássaro
Max
Velthuijs
Era uma vez um pássaro…
Era uma vez um pintor. Pobre, como quase
todos os pintores. E como quase todos os pintores tinha um amor muito grande
pelos quadros que pintava.
Mas havia um que ele preferia: o quadro que
tinha um pássaro maravilhoso.
Um dia chega a casa do pintor um senhor muito
rico que pede para ver todos os quadros. E escolhe o quadro do pássaro.
O Pintor não quer vendê-lo, mas o senhor
muito rico oferece-lhe tanto dinheiro que ele acaba por aceitar.
O senhor muito rico leva o quadro para casa.
Mas o pássaro não se sente feliz, pendurado
naquela parede entre retratos de gente velha, e donde só vê móveis caros e o
dono sonolento.
E numa manhã de Primavera foge pela janela
entreaberta.
À sua frente está um mundo novo, cheio de
cores e de sons.
Encanta-se com o canto dos pássaros e dos
grilos e poisa num prado, entre flores.
Um galo que por ali passava olha-o intrigado
e pergunta:
“Que estás aqui a fazer?”
“Eu sou um pássaro e procuro a minha
família”, respondeu.
“Deves ter-te enganado no caminho”, diz o
galo,
“aqui não encontras de certeza a tua família.
Por que não vais à floresta?”
Na floresta vivem muitas espécies de
pássaros, mas nenhum se parece com ele. “Como tu és cómico!”, dizem-lhe, e
põem-se a rir e fazer troça. “Por que não vais para o Jardim Zoológico? Deve
ser lá o teu lugar!”
O pássaro sente-se desiludido e um pouco
vexado, mas acaba por seguir o conselho dos outros. Abandona a floresta e toma
o caminho da cidade. Em voo rápido, chega ao Jardim Zoológico, e poisa sobre a
juba felpuda e macia de um leão, como se fosse num bosque.
“Quem se sentou sobre a minha cabeça?”, rugiu
o leão.
“Eu sou um pássaro e procuro a minha
família”.
“E eu sou o rei dos animais; mas se te
portares bem podes ficar aí. Serás meu convidado”,
disse o leão solitário.
E foi assim que o pássaro lá ficou.
Acorreu muita gente para ver aquela cena
espantosa:
Um leão e um pássaro a viverem juntos
Como verdadeiros amigos.
Da janela da sua casa, o director do Jardim
Zoológico
Olha a multidão e resolve ir saber do que se
trata.
Ao ver aquele pássaro tão estranho
fica cheio de curiosidade e leva-o para casa.
Põe-se então a ler grossos livros de ciência,
Na esperança de lá encontrar um pássaro
igual.
Mas o pássaro aproveita a distracção do homem
e foge
Pela janela aberta.
E voa.. voa.. Está triste porque não se sente
bem
Em lado algum. Mas de repente vê, muito alto
no céu,
Um avião. Quem sabe se não é o seu pai!
É tão diferente dos pássaros da floresta, tal
como ele…
E tenta alcança-lo. Mas o estranho pássaro
voa mais rápido e desaparece nas nuvens.
Desiludido e cansado, para à sombra de um
castanheiro.
E é então que se aproxima um rapazito que o
olha
Surpreendido. Já sem forças, o pássaro
pede-lhe:
“Ah, diz-me onde está a minha família”.
E conta-lhe a sua história. Fala-lhe do
pintor,
Do senhor rico, e de como se sente perdido.
Então o menino diz-lhe:
“Eu sei onde é a tua casa”, e leva-o ao
pintor.
Nesse mesmo instante o senhor rico saía de
casa do pintor, aonde tinha ido devolver o quadro.
Furioso com a fuga do pássaro, exigiu o
dinheiro
Que tinha pago, e furioso partiu.
“Que terá acontecido ao meu pássaro
maravilhoso?”,
lastima-se o pintor.
Mas de repente aparece-lhe o rapaz com o
pássaro.
Feliz, o pintor diz-lhes: “Vem por aqui
menino,
Vem por aqui, meu pássaro. Sejam bem-vindos!”
O pássaro sente imediatamente que é aquela a
sua casa;
que foi aquele homem que lhe deu vida
E voa para o quadro.
O pintor promete então não voltar a vender
aquele
Quadro. E de vez em quando o pássaro sai do seu
lugar
E poisa sobre a cabeça do pintor,
Onde fica longas horas a vê-lo trabalhar.